quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

GABRIEL GARCIA MARQUEZ (Carta/Pare I)

Se por instante Deus se esquece de que sou uma marioneta de trapos e me presenteasse com mais um pedaço de vida, eu aproveitaria esse tempo o mais que pudesse. Possivelmente não diria tudo o que penso, mas difinitivamente pensaria tudo que digo. Daria valor as coisas não por aquilo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais se detivessem, acordaria quando os demais dormissem. Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, deitaria-me ao sol, deixando a descoberto não sómente o meu corpo, como tambem a minha alma. Aos homens eu provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de se enamorar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se enamorar. A um menino eu daria-lhe asas, apenas lhe pediria que aprendesse a voar. Aos velhos, ensinaria que a morte não chega com o fim da vida, mas sim com o esquecimento. Tantas coisas aprendí com os homens... Aprendí que todo mundo quer viver no cimo da montanha , sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Aprendí que um recém-nascido aperta com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, agarra-o para sempre. Aprendí que um homem só tem direito a olhar o outro de cima para baixo, quando está a ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês , mas agora realmente de pouco me irão servir, porque quando me guardarem dentro dessa caixa, infelizmente estarei morrendo. (Fim da parte I)(colaboração da nossa leitora Iná Meira)

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