sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

DESIGUALDADES CULTURAIS!

Culpa e vergonha :
NESSES DIAS de novos e velhos escândalos na política aqui por Brasília, lembrei-me de um colóquio do psicanalista Ricardo Goldemberg, autor do excelente livro "Psicanálise e Política", que acompanhei com pessoas participantes de um dentre os vários grupos de estudos de uma escola de psicanálise da cidade. Ao final de sua fala, talvez por estar no centro do poder, Goldemberg fez uma breve, mas muito relevante e significativa referência à diferença entre nosso "ethos" político ocidental e o dos asiáticos. Não comparou culturas, mas evidenciou as diferenças de percepção e sentido do ato de cometer erros em cada uma das cosmovisões, sobretudo no que diz respeito ao trato da coisa pública. Se bem entendi, na tradição asiática, o sujeito situa-se no mundo pelas mãos, olhar e escuta do grupo ao qual pertence -família, colegas do trabalho, comunidade-, o que resulta num peso incomum, para o coletivo, de tudo o que o indivíduo faz. Já na
tradição ocidental, o referencial que orienta nossa conduta moral, ética e social está centrado quase que exclusivamente nas virtudes ou defeitos dos indivíduos.
Isso implica grande diferença na forma como as duas tradições lidam com o erro, a fraude ou os malfeitos em geral que campeiam no reino da política. Na primeira, o sujeito é reconhecido pela maneira como o grupo o aceita e empodera. Assim, se qualquer atitude ou ação desabonadora individual se transforma em prejuízo material ou moral também para o coletivo, quando ela acontece, é fonte de grande e quase irremediável vergonha. Na segunda, ainda que o pertencer a um grupo seja igualmente condição para situar-se no mundo, os erros e virtudes são predominantemente focados no indivíduo. A atitude ou ação desabonadora que alguém fizer recai sobre ele mesmo. O prejuízo moral e ético, motivo ou não de culpa, terá um peso majoritariamente pessoal.
Lá, quando erram, a vergonha perante o grupo ao qual devem honra e satisfação é tanta que muitos chegam ao extremo de acabar com a própria vida.
Aqui, quando não tentam tapear a inteligência alheia com justificativas esfarrapadas, às vezes apelam a uma segunda chance, com juras de "lição aprendida". Isso quando não desaparecem por um tempo necessário ao esquecimento e voltam para repetir os mesmos erros e contravenções. Seria muito bom para o Brasil se, nos casos que envolvem a ética pública e o dinheiro do contribuinte, para além da apuração dos fatos, julgamento rápido, isento e severa responsabilização criminal, houvesse arrependimento sincero, menos culpa e mais, muito mais, vergonha.//.(Fonte:Folha/
contatomarinasilva@uol.com.br MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.).
CPI-BRASIL.COM(Comentário):

Muitos podem pensar em vontade ou pensamento utópica da ex-ministra Marina. O relato acima expressa com fidelidade as desigualdades socio-culturais entre Oriente e ocidente. No nosso caso, querer é poder. Basta-nos a consciência de que tudo depende de nós. Desaber-mos separar o 'joio do trigo'. Votar-mos com inteligência.

5 comentários:

UN VOYAGEUR SANS PLACE disse...

C'est ça, mon ami! Très bien, vraiment!

Achei o teu blogue através do blog "Borboletas no Estômago", da Patrícia Meirelles, e achei muito bom.

Poucas pessoas têm essa visão que pude ver aqui. Acho que o post tem toda a razão, e, se pude avaliar bem, o que é proposto é uma nova maneira de avaliar nossas atitudes frente aos homens e mulheres que estão no poder, não é isso? Pois acho que só em países com curta memória é que homens como Malouf e Collor podem se reeleger em eleições. Caso fosse no Japão, na Arábia Saudita ou na Índia, isso nunca aconteceria, mesmo porque figuras corruptas logo desaparecem do cenário político desses países.

Mes félicitations et au revoir.

Beto72 disse...

Complementando o comentário do Sr Abdoul Hakime acima com o qual concordo em 90% tenho apenas a discordar quanto ao fato que a reeleição daqueles velhos conhecidos que ele sitou não é apenas pela memória curta do povo brasileiro mas fruto de um sistema educacional que nunca foi prioridade neste país que forma uma massa de semi analfabetos funcionais completamente alienados.

angela disse...

Sempre tenho receio dessas comparações muito genericas e temos realidades muito diferentes mesmo se falando de ocidente, o Brasil é de um jeito, a Dinamarca de outro, os Usa de outro, etc.Orientre então... China, japão, India, etc.
abraços

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Aqui o referencial é o indivíduo, acrescido de tudo que ele faz de errado. Embora estas ações tenham conseqüências trágicas para a comunidade, nada se faz de efetivo.
Será que esta falta de iniciativa do brasileiro se deve somente a problema cultural? Não estariam ai incluídos os problemas relativos à falta de visão/educação para agir em detrimento de si mesmo (população)? Não sei. Existem muitas variáveis neste contexto para serem analisadas. Mas o que mais me impressiona, atualmente, é que as pessoas estão se habituando com a corrupção, ao ponto de falarem “ele rouba, mas produz”. Isto é total inversão de valores.
Beijos e ótimo final de semana.

Norma Villares disse...

Cada país tem suas peculiaridades e processo cultural. E o Brasil é um país novo, tem muito que aprender.
Concordo com maria José, são muitas as variantes.
Acredito que inicia no processo educacional, na celula mater "família".
Pergunta-se:
Quais os investimentos na educação?
Pano pra manga...

Melhores abraços